Raquel Guzzo fala sobre Psicologia Escolar e Educacional. Confira!

A psicóloga e professora universitária Raquel Guzzo foi um dos importantes nomes que os participantes do V Seminário de Psicologia e Políticas Públicas puderam prestigiar. Atuante na área de Psicologia Escolar e Educacional, ela esteve à frente da conferência “A Psicologia e as Políticas Públicas no Campo Educativo: por que não saímos do lugar?” e integrou a mesa redonda “Enfrentamento à Violência na Escola: a Contribuição da Psicologia”.

Pesquisadora e Professora Titular na PUC/Campinas SP, Raquel Guzzo possui mestrado e doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em Estudos Comunitários e Prevenção pela University of Rochester, USA.

Ao final de sua participação no Seminário, a professora falou brevemente e com exclusividade ao Portal CRP-09.

Confira a entrevista:

Quais foram os principais desafios já superados pela Psicologia Escolar/Educacional no Brasil e o que ainda é necessário superar?

Eu diria que nós vivemos uma contradição muito grande, porque a Psicologia veio ao Brasil por uma das vias da Educação - a formação de professores. Eu mesma sou fruto dessa realidade, porque a primeira vez que eu ouvi falar em Psicologia foi no segundo grau, numa cadeira de Psicologia do Desenvolvimento, dentro do curso de formação de professores. A Psicologia como corpo de conhecimento tinha uma relação já estreita com a Educação, mesmo antes da profissão ser regulamentada. Com a regulamentação da profissão e com a predominância e a aderência da Psicologia ao modelo “saúde e doença” e ao modelo médico de atuação, acabou-se negligenciando, e por outras razões também, o desenvolvimento da Psicologia dentro de outros campos da atuação profissional, como é o campo da (Psicologia) comunitária e da Psicologia Escolar ou Educacional. Acredito que são vários fatores. É muito difícil hoje, precisamos identificar bem quais são as barreiras para esse desenvolvimento. Elas são barreiras de ordem técnica de formação - se os alunos têm a opção de escolher ou não a área de escolar como área de formação dentro da graduação, eles não vão saber agir quando eles estiverem fora no campo e aparecer uma oportunidade de trabalho. Então, tem uma fragilidade técnica grande que é decorrência de uma formação insipiente, inadequada e inexistente para área. Existe também formações e barreiras políticas de organização da categoria para defender a presença do psicólogo para a rede. Porque eu acho que, enquanto categoria, nós precisaríamos olhar com muito mais carinho e mais atenção o desenvolvimento para a proximidade dos profissionais nesse campo.

A senhora esteve à frente da criação da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee). A senhora acredita que associações podem colaborar com divulgação e, consequentemente, despertar interesse nos profissionais da Psicologia para atuação na área Escolar e Educacional?

Você lembrou a fundação da associação que realmente foi fundada por nós, pessoal da equipe de Psicologia Escolar da PUC de Campinas. A ideia de criar a associação era para aglutinar as pessoas que estavam trabalhando de uma maneira dispersa e dar visibilidade à área. Estamos fazendo agora um resgate, financiado pela CNPQ, dos 25 anos da Abrapee. O que de fato ela se propôs a fazer e o que de fato ela conseguiu fazer. Acredito que nós tivemos avanços. Conseguimos dar visibilidade à área com a revista que a associação mantém até hoje com qualidade, inclusive. Mas dentro da academia, a área está se esgotando, ela não é um motivo de interesse. Embora a associação tenha dado visibilidade aos profissionais da Psicologia, ela não teve impacto na formação dos profissionais e o interesse dos estudantes pela área. Foi um movimento importante de aglutinação e visibilidade, mas que não basta, foi insuficiente para colocar o psicólogo na rede.

Durante o seminário, a senhora citou Paulo Freire e disse que viu em manifestações pessoas com cartazes dizendo “Fora Paulo Freire”. Gostaria que a senhora comentasse sobre isso e também falasse sobre como o psicólogo pode colaborar com a politização da sociedade?

Eu fiquei chocada porque (Paulo Freire) foi a pessoa que me formou para a importância da educação como instrumento de emancipação e libertação das pessoas do subjugo daquela ideologia que coloca a pessoa como escravizada, como colonizada. Pela educação, não essa educação só que está ai, mas pelos processos educativos, você vai tomando consciência de quem você é e o que você vai querer fazer e se desenvolver no mundo. Quando eu vi o slogan “fora Paulo Freire” eu me surpreendi. Mas eu acho que temos que respeitar que são posições distintas. Única coisa que eu fico preocupada é: de onde isso saiu e que nível de entendimento as pessoas têm. Porque, inclusive o Paulo Freire, como secretario de municipal de educação, no momento em que foi Secretário Municipal de Educação, em São Paulo, não conseguiu implantar na sua magnitude a mudança de atitude e de consciência da importância da educação como vários políticos, como vários professores e inspiradores de uma outra possibilidade, para um movimento educativo mais emancipatório e não bancário, como ele dizia. Nós sabemos que a dificuldade é grande, porque é uma questão de você disputar mesmo a consciência, disputar poder, disputar política e eu acho que se nós nos afastarmos desse debate, nós simplesmente deixamos o campo livre para eles tomarem as providências que eles quiserem. Então, no mínimo somos pedras de resistência nessa questão. Se nós não obstacularizarmos (sic) o caminho como pedras de resistência, nós vamos deixar o caminho livre para eles levarem para onde eles quiserem. Então, “Fora Paulo Freire”. O que interessa politicamente é uma educação bancária e não uma educação emancipadora. Então é isso, ou vamos ficar no caminho para dificultar que isso se desenvolva ou vamos deixar o caminho livre e depois nos arrependemos.

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