Dia Internacional dos Povos Indígenas faz um alerta para a violência contra povos originários no Brasil e no mundo

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Nesta terça-feira, 9 de agosto, celebramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995, com o objetivo de chamar a atenção de governantes e da sociedade civil para a necessidade de se garantir condições de existência minimamente dignas às populações indígenas de todo o planeta.

Em 2007, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, documento elaborado por grupos de trabalho formados por representantes de povos originários de todo o mundo. De acordo com o texto, “os povos indígenas têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito determinam livremente sua condição política e buscam livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.”

A data se faz extremamente importante no Brasil atualmente, diante de ataques sistemáticos e estruturados contra populações originárias, muitas vezes respaldados e incentivos pelo próprio poder público. De acordo com levantamento do Centro de Ciências do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o índice de áreas ameaçadas no entorno das terras indígenas da Amazônia Brasileira aumentou 74% na última década. Os fatores de risco dentro destes territórios, incluindo desmatamento, ocorrência de incêndios, mineração e avanço da agropecuária, aumentaram quase 65% no mesmo período.

É fundamental que a Psicologia também abrace esta discussão, como afirma a psicóloga Adria Malauiru Diriti Brandão (CRP 18/6147), da etnia Iny Mahãdu. Segundo ela, é importante que profissionais atuantes na promoção de saúde mental das populações indígenas estejam inseridas(os) no meio, pois existem diversas demandas específicas das populações indígenas, além de particularidades de cada cultura.

“Eu, como indígena, posso dizer que nós estamos a cada dia mais adoecidos pelo sofrimento gerado pela invasão do homem branco. Esta violência que estamos enfrentando gerou um índice muito grande de suicídio, depressão, mortalidade infantil. Podemos notar um índice muito grande de indígenas que necessitam de atendimento psicológico. A maioria está com medo e insegurança. Estão ansiosos e traumatizados. Muitos já tiraram a própria vida. Se os atendimentos psicológicos fossem mais presentes nas comunidades, talvez pudéssemos reverter este quadro”, alerta Adria.

A indígena Berixa Moura Karaja, da etnia Iny Mahãdu, é acadêmica do oitavo período de Psicologia na Universidade Federal do Tocantins (UFT) e confirma o triste cenário descrito por Adria. Para ela, a Psicologia precisa primar pelo exercício profissional baseado em valores éticos e a observância dos direitos humanos, desta forma contribuindo para a incansável luta das populações indígenas por mais dignidade e respeito.

“Com toda a situação presente contra as populações indígenas, é possível constatar o crescente índice de suicídio nas comunidades. Notamos que o indivíduo que mora na aldeia tem a saúde mental prejudicada com o insistente preconceito, racismo e outras formas de aniquilamento dos povos indígenas. Penso que o papel da Psicologia para analisar e entender este contexto se inicia seguindo o Código de Ética Profissional, com apoio nos valores que fundamentam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim exercendo uma postura não-etnocêntrica, para que não desrespeite os mais diversos povos que existem”, destaca Berixa.

As duas mulheres indígenas ouvidas pela reportagem do CRP09 também concordam que, além do olhar mais atento da gestão pública e de toda a sociedade, é imprescindível que a própria população indígena comece a ocupar esses espaços. No caso da Psicologia, profissionais oriundos das próprias aldeias têm mais capacidade de prestar um atendimento que leve em consideração todas as características e a realidade de cada lugar.

"Atualmente, as(os) psicólogas(os) brasileiras(os) têm tentado muito ajudar as populações indígenas, mas ainda precisamos avançar mais. Muitos profissionais que trabalham no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), responsável pela prestação de saúde, começam a trabalhar, mas não dão continuidade. Muitos indígenas moram em áreas urbanas, de fácil acesso, mas também temos aqueles que vivem isolados e em áreas de difícil acesso. Essas pessoas também necessitam de atendimento, e muitos profissionais desistem ao se deparar com esses obstáculos. O sistema ainda é muito falho e precisa dar mais condições para a permanência destes profissionais. Atualmente, temos alguns indígenas na universidade, cursando Psicologia, e isso é uma grande conquista, pois vai estreitar a ponte entre a Psicologia e a comunidade. Além disso, também vai facilitar o atendimento, pois muitas pessoas só se comunicam em suas línguas originárias, e ter um profissional que possa falar aquela língua é muito positivo. Apesar do preconceito que sofremos todos os dias, não podemos desistir de conquistar estes espaços”, ressalta Adria.

“Penso que há várias formas de ampliar a discussão da temática na sociedade, mas acredito que trazer os próprios Indígenas para falar da realidade presente é mais válido, pois são os que sofrem na pele com essas ameaças. Atualmente, percebo a psicologia brasileira se posicionando de forma positiva com a questão indígena, buscando analisar e compreender o meio. No entanto, também estamos vendo diversos retrocessos na legislação, que antes acreditávamos ser uma fonte de garantia. Por isso, destaco ser de muita importância as cotas destinadas aos indígenas nas Universidades, e também a garantia de auxílios estudantis, pois a maioria de nosso povo é formada por famílias humildes. Com o acesso à universidade e a política de assistência e permanência, enfim teremos indígenas graduados, mestres, doutores e profissionais, que ocupem empregos nos mais variados lugares”, complementa Berixa.

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