CRP-09 participa do 9º Conpsi com mesa redonda sobre o Movimento Plural Idades

O Conselho Regional de Psicologia 9ª Região participou do 8º Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas realizado conjuntamente com o 9º Congresso Norte-Nordeste de Psicologia (Conpsi), realizado entre 13 e 16 de maio, em Salvador (BA). Na ocasião, foi apresentada a mesa redonda “MOVIMENTO PLURAL IDADES – O enfrentamento real da velhice”, comandada pelo Conselho Regional de Psicologia 9ª Região - Goiás.

O presidente do CRP-09, Wadson Arantes Gama, e a conselheira Maria Virgínia Carvalho participaram da mesa contando as experiências do Movimento Plural Idades e também sobre uma pesquisa que está sendo realizada com os profissionais da Psicologia que trabalham com a temática da Pessoa Idosa. De acordo com Gama, a interlocução com os presentes foi bastante produtiva. "Foi interessante a troca que ocorreu com quem estava assistindo a nossa apresentação. Essa troca de experiências é muito gratificante e acredito que seja o ponto alto quando participamos de um grande evento como o Conpsi", ressalta.

A conselheira Maria Virgínia falou sobre uma pesquisa que está sendo realizada com os profissionais da Psicologia que trabalham com a temática da Pessoa Idosa. "É importante pensar como a Psicologia atua nessa temática e como nós, psicólogos e psicólogas, podemos colaborar com ela", diz.

O presidente do CRP-09 informou ainda que o estande montado pelo Conselho Federal de Psicologia está sendo muito procurado pelos participantes. "Esta edição do seminário superou a participação dos outros anos. O Conselho Federal esta de parabéns por conseguir alcançar este grande público através de temáticas importantes", avalia.

Veja abaixo o texto apresentado pelo presidente Wadson Gama na mesa redonda:


AS VELHICES E AS POLITICAS PÚBLICAS

Um dos fenômenos demográficos mais significativos do mundo contemporâneo, o envelhecimento populacional afeta países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estima-se que o número atual de pessoas com mais de 60 anos corresponda, atualmente, a 750 milhões. Hoje, 65% das pessoas idosas vivem em país em desenvolvimento, percentual que atingirá os 80% em 2050, ano em que a população idosa alcançará a marca de dois bilhões, cerca de 22% da população mundial (Ministério das Relações Exteriores [MRE], 2013).

Segundo MRE (2013), a pirâmide populacional no Brasil, tende a assumir a forma retangular, com taxa de reposição zero – para cada indivíduo que morre lá em cima, no topo, um indivíduo nasce na base, aqui em baixo; é o que ocorre em alguns países europeus, como na Itália. Então os investimentos nas duas pontas da população poderão ser mais equilibrados. No Brasil, estamos em fase de transição da representação da pirâmide para a forma retangular. Mas chegaremos lá, e não levará muito tempo porque a expectativa de vida no país está se alongando rapidamente.

Pode-se concluir que se vive mais no Brasil e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2011) constata que há quase 30 mil pessoas no país que já passaram dos 100 anos de idade; sendo, em média, 25 anos a mais do que na década de 1960. E nesta vida mais longa há uma prevalência das mulheres, tanto é que em 2011 a taxa de participação das mulheres foi de 51,04% da população nacional. Mas esta maioria feminina é de pessoas com mais de 60 anos. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios [PNAD] (IBGE, 2011), as mulheres nessa faixa etária são 13.111 milhões, que representam 55,53% das pessoas nesses grupos de idade.
A transformação da velhice em problema social não pode ser compreendida como resultado mecânico do aumento da população idosa, como mostrou Lenoir (1979). Um problema social é uma construção social e não o puro resultado do mau funcionamento da sociedade. A constituição de um problema social supõe um trabalho em que, segundo esse autor, estão envolvidas quatro dimensões: reconhecimento, legitimação, pressão e expressão (Debert & Oliviera, 2009).

O reconhecimento implica tornar visível uma situação particular. É a conquista de uma situação pública e supõe a ação de grupos socialmente interessados em produzir uma nova categoria de percepção do mundo social, a fim de agir sobre ele. A legitimação não é a consequência automática do reconhecimento público do problema. Ao contrário, ela supõe o esforço para promovê-lo e inseri-lo no campo das preocupações do momento.

No caso de transformação da velhice em problema social, essa questão é, segundo Lenoir (1979) especialmente importante. Diferentemente de outras categorias, os velhos não dispõem de meios sociais nem de instrumentos de acesso à expressão pública.

As formas de pressões se traduzem em formas de expressão que consagram determinadas convenções sobre velhice, período, que é, certamente, o estágio mais longo da vida.
Segundo Debert e Oliveira (2009), os primeiros estudos sobre esse seguimento populacional caracterizavam a velhice como uma situação marcada pela decadência física e perdas de papéis sociais, posto que as sociedades modernas não previam um papel específico ou uma atividade para os velhos, abandonando-os a uma existência sem significado.

Contudo, a partir da década de 70 estudos realizados procuraram caracterizar a diversidade no interior desse segmento, chamando a atenção para heterogeneidade das experiências de envelhecimento no que diz respeito particularmente às diferenças socioeconômicas, étnicas, de gênero e de religião, mostrando como essas clivagens sociais levam a formas e experiências de discriminação e estigma distintas (Debert & Oliviera, 2009).

Conforme Beauvoir (1970), a velhice se altera segundo as épocas e os lugares. A autora salienta que para compreender a realidade e o significado da velhice é indispensável examinar qual o lugar nela atribuído aos velhos, qual a imagem que deles se tem em diferentes períodos, lugares e cultura.

Para Lopes (2005), a velhice, como categoria universal, não existe isoladamente. Existe sim, um indivíduo com características singulares, um ser único em constante processo de transformação constituído por um organismo biológico, inserido numa determinada cultura e momento histórico, os quais, em nossa opinião, geradores de sentidos e significados únicos.

Barcelar (1999) afirma que a ideia de velhice não comporta um só conceito, porque não há equivalência sobre características de uma pessoa em determinada idade, isto é, a idade cronológica pode não ser idêntica à biológica e social do indivíduo. A experiência psicológica para Stoppe e Vaughan (1999) resulta em interpretações individuais do passado, presente e futuro. As diferenças individuais na experiência do tempo aumentam com a idade, assim como a complexidade da percepção individual do tempo.

Segundo Neri (2001) o conceito social da velhice refere-se primeiramente aos comportamentos associados aos papéis etários que uma dada sociedade prescreve para seus membros. A idade social diz respeito à avaliação do grau de adequação de um indivíduo ao desempenho dos papéis e dos comportamentos esperados para as pessoas de sua idade, num dado momento da história de cada sociedade. Dessa forma, as experiências de envelhecimento e velhice podem variar no tempo histórico de uma sociedade, dependendo das circunstâncias.

Com estes estudos a velhice emerge diferente, contrariando a visão de uma fase como uma situação de perdas e os estereótipos negativos para realçar os ganhos que o envelhecimento traz.

Nesta perspectiva segundo Debert e Oliviera (2009) os estágios mais avançados da vida passam a ser tratados como momentos privilegiados para novas conquistas guiadas pela busca de prazeres, da satisfação e da realização pessoal. As experiências vividas e os saberes acumulados propiciam aos mais velhos oportunidades de explorar suas identidades, realizar projetos abandonados em outras etapas da vida, estabelecer relações mais profícuas com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos.
No entanto, precisamos nos atentar para a coexistência dessas visões distintas da velhice e para o modo através do qual as políticas públicas consagram uma ou outra visão. Considerar que as políticas públicas não são apenas respostas aos problemas sociais, mas são ativas na produção de convenções sobre a definição de seu público alvo, exige um olhar atento para o modo como concepções muito distintas do que é a velhice podem conviver em mesmo contexto nacional e dar dinâmicas distintas ao funcionamento de diferentes instituições (Debert & Oliviera, 2009).

As autoras prosseguem dizendo que o Brasil teve um papel ativo na criação de propostas, leis, decretos e medidas voltadas para esse segmento da população idosa. Nossa Carta Constitucional e o nosso Estatuto da Pessoa Idosa são, certamente, dos mais avançados no mundo. Essas leis abrangem temas, propõem medidas e estabelecem direitos segundo uma concepção inegavelmente de inclusão de setores sociais e movimentos sociais atuantes na área. No entanto, vivemos em meio a uma persistente desigualdade social no acesso aos diretos da cidadania, e este é nosso intricado paradoxo. Para as autoras, o Brasil apresenta essa desigualdade de modo acirrado e crônico, posto que suas burocracias estatais são muitas vezes incapazes de cumprir suas obrigações com eficiência razoável.

Esse quadro acaba por determinar um tipo de estado que mistura características democráticas e autoritárias. Essa mistura, resulta numa espécie de truncamento do exercício pleno da cidadania, tão bem qualificado por expressões como “cidadania contraditória” (Santos, 1979), ou ainda cidadania em meio a uma “democracia disjuntiva” (Caldeira & Holston, 1999).

Se esse é o contexto mais amplo em que se delineiam dilemas de difícil solução, ele impõe aos estudiosos empreendimentos cada vez mais detalhados no sentido de entender os meandros concretos e as relações sistemáticas que compõem o campo da autoridade pública no que concerne à defesa de direitos garantidos pela lei, contudo, ainda não inteiramente assegurados na prática da cidadania (Debert & Oliviera, 2009). Contudo, nos últimos anos tem crescido o número de grupos de convivência de pessoa idosa e de universidades para essa população. Com uma capacidade de mobilização impressionante essas iniciativas tem promovido de maneira muito evidente a redefinição de valores, atitudes e comportamentos dos grupos mobilizados. Esse movimento tem ajudado na criação de espaços para novas aprendizagens e redimensionamento da vida dos idosos a partir da oportunidade de viverem experiências de forma mais significativa e participativa.

O Movimento Plural Idades vem construindo sua trajetória ética e política desde o ano de 2011, participando efetivamente das lutas societárias voltadas para a construção da cidadania plena, na promoção e defesa dos Direitos Humanos.

Surgiu por uma iniciativa do Conselho Regional de Psicologia 9ª Região Goiás (CRP-09), através da Comissão de Políticas Públicas, que buscou parceria com entidades governamentais e civis.

O objetivo do Movimento Plural Idades é o de inserir a pessoa idosa nos vários espaços comunitários, possibilitando a convivência e a interação com os mais jovens, favorecendo o processo da senescência com qualidade de vida, contribuindo para que os idosos possam redescobrir suas potencialidades e autonomia, além de proporcionar o conhecimento e a aplicabilidade do Estatuto do Idoso.

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