Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia reafirma dever da Psicologia em refutar discursos preconceituosos e pseudocientíficos

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Há apenas 32 anos, a homossexualidade deixava de ser classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença. No dia 17 de maio de 1990, a entidade finalmente excluiu a atração por pessoas do mesmo sexo da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). A data ficou conhecida como Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia, que propõe dar visibilidade à realidade de violência e preconceito enfrentada diariamente por pessoas que se reconhecem como pertencentes à comunidade LGBTQIA+.

O psicólogo Mayk Diego Gomes da Glória Machado (CRP 09/7680), ativista pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ em Goiás, ressalta que a ação da OMS naquele dia 17 de maio de 1990 continua tendo consequências bastante significativas nos dias de hoje, possibilitando uma transformação necessária na forma como a sociedade encara a existência de diversas formas e expressões da sexualidade humana.

"A ciência, em 1990, reconhece um equívoco, realizado a partir de um discurso pseudocientífico que não conseguiu se sustentar, e todo esse processo tem um desdobramento na vida concreta das pessoas. Quando nós temos a ciência legitimando determinado tipo de discriminação, isso reverbera na subjetividade das pessoas, que passam a enxergar certos modos de ser e estar no mundo como anormais. A retirada da homossexualidade da lista de doenças da OMS também tem como consequência a mudança na mentalidade das pessoas em relação à representação social que elas têm das diversidades sexuais e das identidades de gênero", explica Mayk.

O psicólogo acredita que é necessário reconhecer avanços e conquistas, mas chama a atenção para as inúmeras formas de expressão do preconceito e da discriminação que ainda persistem no Brasil, tanto de modo sutil e velado quanto de modo flagrante, que resulta nos altíssimos índices de violência e assassinatos de pessoas LGBTQIA+ no país. Mayk reforça ainda que, na pandemia, esta população se tornou ainda mais vulnerável, principalmente diante da ausência de políticas públicas concretas voltadas para a realidade específica destas pessoas.

"O cenário em Goiás é bastante preocupante, com um cenário de descaso e muita negligência por parte do poder público. Há alguns anos, nós tínhamos o Conselho Estadual de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Estado de Goiás de Goiás (COELGBTT), vinculado à Secretaria de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial, e que foi extinto na gestão passada. O CRP09, inclusive, tinha uma representação neste Conselho, cuja função era formular e propor, além de fiscalizar, diretrizes para a ação governamental. Atualmente, o cenário de políticas públicas é muito precário. Na pandemia, isso ficou ainda mais evidente. Realizo um trabalho social com população em situação de rua em Aparecida de Goiânia, e ficou muito visível a vulnerabilidade dessas pessoas, especialmente das mulheres transexuais. Por conta da discriminação e da falta de emprego e oportunidades, essas pessoas muitas vezes precisam recorrer à prostituição para sobreviver. O Estado precisa ter uma ação mais efetiva para essas pessoas", afirma o psicólogo.

Mayk Diego Gomes da Glória Machado também destaca o papel da Psicologia em meio aos avanços sociais para a comunidade LGBTQIA+. Segundo ele, psicólogas e psicólogos têm a função primordial de psicoeducação, embasada por preceitos científicos. Desta forma, é necessário que a categoria e os órgãos que compõem o Sistema Conselhos continuem denunciando e combatendo tentativas de se legitimar o preconceito e a discriminação, que se manifestam principalmente na forma de "terapias de conversão e reversão".

"Nós, enquanto ciência e profissão, temos como função neste momento desqualificar todo e qualquer discurso que busque construir uma narrativa de cura das homossexualidades ou de qualquer outra expressão de gênero que não esteja dentro da heteronormatividade e cisnormatividade. Temos a obrigação de nos posicionar de modo contrário a esses discursos pseudocientíficos, que muitas vezes buscam se legitimar a partir da Psicologia, mesmo sem qualquer tipo de embasamento ou evidência científica. Nossa atuação deve se embasar em nossos parâmetros de ciência, considerando o nosso código de ética e a declaração dos direitos humanos, e não podemos esmorecer frente a essas tentativas constantes de utilizar a Psicologia para patologizar novamente as diversidades sexuais", afirma o psicólogo.

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